sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cidade do Coração...


por Izan Petterle em 13 de maio de 2009




"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. 

E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. 
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. 
Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."

João Guimarães Rosa

Existem cidades míticas no imaginário dos apreciadores da boa literatura nacional. Cordisburgo, em Minas Gerais, é uma delas. Aqui, em 1908, nasceu Guimarães Rosa, considerado por muitos como o maior escritor brasileiro contemporâneo.
O nome Cordisburgo foi dado em homenagem ao padroeiro da cidade, o Sagrado Coração de Jesus. A etimologia vem do hibridismo: cordis, do latim, que significa "coração" e burgo, do alemão, que significa "vila" ou "cidade". 
Aqui, em todo o mês de julho, acontece a Semana Roseana onde são exibidas mostras de filmes e de teatro, leituras, palestras, passeios pela cidade e debates sobre a obra de Guimarães Rosa. Um dos destaques da programação é a Caminhada Eco-Literária, que percorre os locais de Cordisburgo que são citados por Guimarães Rosa em seus livros. Uma das principais atrações naturais do lugar é a Gruta do Maquine, descoberta pelo famoso naturalista dinamarquês, Dr. Peter Lund.
Minha vinda para cá tem uma carga de desafio muito grande. Afinal, como é possível alguém fotografar a cidade de um escritor que simplesmente revolucionou a linguagem da moderna literatura brasileira sem cair em algo óbvio e redundante? A tarefa era arriscada e o grau de dificuldade tamanho, ao ponto de Ronaldo Ribeiro, meu editor na revista National Geographic Brasil, propor-me que eu viesse por conta e risco. Se por acaso ele não gostasse do material produzido – o mais provável, segundo ele -, eu não seria remunerado por meu trabalho. Minha resposta foi: "É meu número". O material foi publicado e simplesmente a revista ganhou o Prêmio Abril de Jornalismo, na categoria Cultura, por essa reportagem.
Agora, trabalho com o produtor cultural de Belo Horizonte, Henrique Godoy, em um novo projeto: publicar um livro com as minhas fotos e com os textos da Regina Pereira. Torço para que dê tudo certo.
Voltarei em breve para Cordisburgo. Enquanto isso, aproveitem e conheçam essa hospitaleira e extraordinária cidade. Aqui, as memórias das obras de Guimarães Rosa estão vivas como em nenhum outro lugar do Brasil.

domingo, 4 de março de 2012

As pessoas se ajuntam em várias espécies de cidades: as grandes, médias ou pequenas. Em cada uma delas, as pessoas tem modos assemelhados de se divertirem, de passarem o tempo. Seus gostos, preferências, e lazeres.
Nas cidades de pequeno porte, as pessoas jogam truque, jogam malha, as peladinhas, batem papo nas praças, nos butecos... Uns gostam de pescar, outros de caçar, ou os dois. Em uma cidade pequena, tinha um grupo que gostava muito de caçar, e o faziam constantemente.
Nem todos os donos de fazenda gostam que entrem em suas terras para caçar ou pescar. Naquela fazenda, daquela pequena cidade, o Sr. Raimundo Cócega já tinha discutido várias vezes com os caçadores proibindo que caçassem em suas terras.
Os caçadores, enfezados já com tanta discussão com o fazendeiro, fizerem a cabeça do João Tiago para acabar com aquela amolação, eliminando-o. O João, tão enjoado como os companheiros com o desafeto, ficou grávido daquele projeto homicida, foi amadurecendo a idéia até que sofreu as dores do parto: pegando sua espingarda foi até as terras do Raimundo e com a paciência dos caçadores aguardou a caça especial.
Como fazia todos os dias, lá veio o fazendeiro, olhando cercas, conferindo o gado sem nada desconfiar. Na espreita o caçador puxou o gatilho pondo fim à chatice da proibição. Empapando o chão com seu sangue, expirou o Raimundo. Seus olhos abertos já não enxergavam o verde treme-treme dos bate-caixas, o amarelo das flores de bacpari, o azul do céu com salpicos de nuvens que valorizavam o azul. Aqui a história poderia terminar.
Poderia.
O João volta para casa. Leva na mente o peso de uma morte. É tão fácil matar um animal! Os caçadores se postam em lugares estratégicos, soltam os cães e aguardam. Em pouco se ouve o acuo deles no mato — levantaram um veado. O pobre animal, vendo aquele perigo iminente, foge em disparada exatamente para o meio do perigo maior: os homens emboscados. E começam os tiros. Se o primeiro caçador erra, à frente tem mais caçadores e um deles certamente vai acertá-lo. Sorrisos, festa, comemoração em torno do morto.
Agora, porém, é diferente: foi abatido um da mesma raça. Sentindo-se com o peso de uma tonelada, o caçador é caçado por sua consciência. Em casa mistura formicida com guaraná e a formicida vira homicida.
Na casa do Raimundo, desespero da mulher e dos nove filhos o maior com 13 anos. Na casa do João, desespero só da mulher sem filhos.
Aqui já estaria bom para a história ser encerrada.
Estaria, porém...
A mulher do Raimundo inconformada com a dor da perda, resolve seguir o marido, e dias depois é encontrada morta.
Estabeleceu-se o inferno entre as pobres crianças: ainda não refeitas da perda do pai, perdem a mãe. Muitos não aceitaram esta dorida realidade. O mais velho foi para o hospício onde veio a falecer. Dos outros, poucos foram os que ficaram sem alguma perturbação. Um deles encontra-se internado ainda nos dias atuais. Aqui a história finalmente acaba.


Nenzito (Zé Maria)
Baseado em fatos reais, nomes fictícios

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012


Curta-metragem de Marily da Cunha Bezerra, baseado em um episódio de "Grande Sertão: Veredas" de Guimarães Rosa.
Riobaldo conta o encontro que teve aos 14 anos no porto do Rio de-Janeiro, com um belo e estranho menino chamado Diadorim, e a posterior travessia pelo Rio São Francisco, que os levará à descoberta do amor, do medo e da coragem.
Direção e Roteiro: Marily da Cunha Bezerra
Direção de Arte: Kátia Coelho
Montagem: Sarah Yakhni
Trilha Sonora: Badi Assad 
Narração: José Mayer
Elenco: Nana de Castro, Cristina Ferrantini, Evandro dos Passos Xavier, Paulo de Souza, Manuelzão, D. Didi 

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ATOR MINEIRO ENCENA GUIMARÃES ROSA EM QUIXERAMOBIM

Seminário Patrimônio e Desenvolvimento, que será realizado nos dias 11 e 12 de novembro (2011), em Quixeramobim, vai permitir um intercâmbio cultural entre a terra de Antônio Conselheiro, líder político e religioso de Canudos, e Cordisburgo, berço de um dos maiores escritores brasileiros, Guimarães Rosa. O ator mineiro José Maria Gonçalves apresenta uma performance teatral na noite de quinta-feira (11), no Hotel Veredas do Sertão e participa, na sexta-feira (12), da Mesa de Debates Experiências Sociais no Campo Patrimônio. José Maria é um dos fundados do Grupo de Teatro Caminhos do Serão, de Cordisburgo, que encena contos de Guimarães Rosa. O Grupo surgiu em 1998 com o propósito de mostrar ao público os lugares reais dentro de Cordisburgo descritos na obra do escritor Guimarães Rosa. “No princípio, líamos os trechos para uns poucos acompanhantes. Era uma caminhada urbana. Depois passamos a mostrar os lugares citados na literatura também nos arredores da cidade. Aí já estávamos narrando. Depois, evoluímos para encenar alguns contos, o que fazemos até hoje”, explica José Maria. Atualmente, o grupo é composto por seis atores/narradores, um violeiro que canta temas alusivos ao texto que será narrado ou encenado e um especialista na obra que explica os textos.
Na Semana Roseana, evento acontece todo mês de julho, em Cordisburgo, o Grupo Caminhos do Sertão guia o público numa caminhada rural na companhia de muitos personagens de Guimarães Rosa. Segundo José Maria, a atividade do grupo popularizou a obra do escritor na sua cidade natal. “Os contadores de estórias contribuem para a cidade se orgulhar do Guimarães e dos contadores”, diz.
É exatamente essa experiência que José Maria vem compartilhar com a cidade de Quixeramobim. Ele avalia que, assim como foi feito em Cordisburgo com a memória de Guimarães Rosa, um trabalho de conscientização sobre o personagem de Antônio Conselheiro e sua importância na história do Brasil deve ser intensificado na cidade cearense. “As pessoas daí precisam saber que pessoas distantes admiram este grande personagem. E fazer este trabalho (de conscientização) a partir das escolas. Nós, de Cordisburgo, podemos passar a nossa experiência com este tipo de trabalho. E nossa experiência é como contadores de estórias”, sugere.

Quinta-feira (11/11), às 19 horas
Encenação do texto “Meu Tio, o Iauaretê”, de Guimarães Rosa, pelo ator mineiro integrante do Grupo de Teatro Caminhos do Sertão, de Cordisburgo, José Maria Gonçalves.
Local: Auditório do Hotel Veredas do Sertão

Sexta-feira (12/11), às 19 horas
Participação na Mesa de Debates Experiências Sociais no Campo Patrimônio.
Local: Auditório do Hotel Veredas do Sertão
Saiba mais sobre o ator mineiro José Maria Gonçalves e o Grupo Caminhos do Sertãohttp://www.nenzitocordis.blogspot.com/

http://www.osertaoenoticia.com/2010/11/ator-mineiro-encena-guimaraes-rosa-em.html

terça-feira, 3 de janeiro de 2012


O Caminhos da Reportagem faz uma viagem ao Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa. A equipe de reportagem da TV Brasil foi conhecer as paisagens sertanejas que tanto encantaram o escritor mineiro na expedição que realizou em 1952. O dia a dia dos homens da terra, em meio a um cerrado de formas e cores exuberantes, foi descrito minuciosa e poeticamente nas obras de Guimarães.

A viagem refaz esse caminho: originalmente 240 quilômetros percorridos por Guimarães em lombo de burro, durante 10 dias. Rumo ao que hoje é o Parque Nacional Grande Sertão Veredas, a equipe de Caminhos passou pela pequenina Cordisburgo, cidade natal de Guimarães Rosa, a 130 quilômetros de Belo Horizonte. Ali, em meio à antiga loja do pai do escritor e de um museu com todos os seus objetos, foi possível encontrar sertanejos como Brasinha, bordadeiras e os jovens Miguilins, que ainda mantêm viva a essência da obra roseana, como é conhecida sua produção literária.

Veredas de Guimarães Rosa

"O sertão está em toda parte, o sertão está dentro da gente. Levo o sertão dentro de mim e o mundo no qual vivo é também o sertão" , disse Guimarães Rosa

Reportagem: Maia Prado
Edição: Conchita Rocha
Edição de Imagem: Hugo Carmelo e Márcio Stuckert