domingo, 18 de outubro de 2009


"Quando publicou seu primeiro livro de contos, Sagarana, seu amigo João Condé impôs-lhe o imposto Condé para escritores, que consistia em anotar nos espaços em branco de seu exemplar, uma explicação sobre a gestação da obra. Assim explicou-se o Rosa:

Eu tinha de escolher o terreno onde localizar as minhas histórias. Podia ser Barbacena, Belo Horizonte, o Rio, a China, o arquipélago de Neo-Barataria, o espaço astral, ou, mesmo, o pedaço de Minas Gerais que era mais meu. E foi o que eu preferi. Porque tinha muitas saudades de lá. Porque conhecia um pouco melhor a terra, a gente, bichos, árvores. Porque o povo do interior — sem convenções nem poses — dá melhores personagens de parábolas.”

De fato, o primeiro conto de Sagarana, O burrinho pedrês, foi ambientado aqui. Nele tem personagens com nomes reais como Juca Bananeira, Viriato, Badu, e outros que ele usou pseudônimo como o Major Saulo. A Fazenda ele mudou de Fazenda da Ponte, nome real, para Fazenda da Tampa, nome fictício. O Córrego da Fome foi mantido no real. No conto O duelo, o personagem Turíbio Todo morava em Vista Alegre, nome primitivo de Cordisburgo. Em a hora e a vez de Augusto Matraga, ele cita lugares não nossos, como “a Vargem, espécie de arrabalde que prolongava o arraial para lá da linha férrea” e a Ponte da Quininha.

Mas é na novela O Recado do morro que ele capricha nas coisas de Cordisburgo: O carroço que avoa do Catraz, era falado em tom de brincadeira pelo Sinval, sogro da nossa confreira Dona Haydée. O próprio Catraz foi inspirado pelo João Batata bobo de fazenda que freqüentava a Fazenda Remanso do seu amigo Oliveiro Torres. O seu Soandes que resolveu fazer umas asas e voar para o céu sem passar pelo tormento da morte, foi fato verídico acontecido por personagem daqui e que morava perto do seu Florduardo. E vários locais que existem de verdade na cidade ou no campo, foram pesquisados pelo Grupo Caminhos do Sertão e são mostrados aos grupos que nos visitam em sua maioria estudantes. Em trecho do livro ele diz o seguinte:

“Do que eles três falavam entre si, do muito que achavam, Pedro Orósio não acertava compreender, a respeito da beleza e da parecença dos territórios. Ele sabia — para isto qualquer um tinha alcance — que Cordisburgo era o lugar mais formoso, devido ao ar e ao céu, e pelo arranjo que Deus caprichara em seus morros e suas vargens; por isso mesmo, lá, de primeiro, se chamava Vista-Alegre."


Nenzito (José Maria)

Fragmento de discurso proferido na Academia Cordisburguense de Letras, em 31/07/2009.

Nenhum comentário:

Postar um comentário