sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Cidade do Coração...


por Izan Petterle em 13 de maio de 2009




"Quando escrevo, repito o que já vivi antes. 

E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. 
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. 
Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens."

João Guimarães Rosa

Existem cidades míticas no imaginário dos apreciadores da boa literatura nacional. Cordisburgo, em Minas Gerais, é uma delas. Aqui, em 1908, nasceu Guimarães Rosa, considerado por muitos como o maior escritor brasileiro contemporâneo.
O nome Cordisburgo foi dado em homenagem ao padroeiro da cidade, o Sagrado Coração de Jesus. A etimologia vem do hibridismo: cordis, do latim, que significa "coração" e burgo, do alemão, que significa "vila" ou "cidade". 
Aqui, em todo o mês de julho, acontece a Semana Roseana onde são exibidas mostras de filmes e de teatro, leituras, palestras, passeios pela cidade e debates sobre a obra de Guimarães Rosa. Um dos destaques da programação é a Caminhada Eco-Literária, que percorre os locais de Cordisburgo que são citados por Guimarães Rosa em seus livros. Uma das principais atrações naturais do lugar é a Gruta do Maquine, descoberta pelo famoso naturalista dinamarquês, Dr. Peter Lund.
Minha vinda para cá tem uma carga de desafio muito grande. Afinal, como é possível alguém fotografar a cidade de um escritor que simplesmente revolucionou a linguagem da moderna literatura brasileira sem cair em algo óbvio e redundante? A tarefa era arriscada e o grau de dificuldade tamanho, ao ponto de Ronaldo Ribeiro, meu editor na revista National Geographic Brasil, propor-me que eu viesse por conta e risco. Se por acaso ele não gostasse do material produzido – o mais provável, segundo ele -, eu não seria remunerado por meu trabalho. Minha resposta foi: "É meu número". O material foi publicado e simplesmente a revista ganhou o Prêmio Abril de Jornalismo, na categoria Cultura, por essa reportagem.
Agora, trabalho com o produtor cultural de Belo Horizonte, Henrique Godoy, em um novo projeto: publicar um livro com as minhas fotos e com os textos da Regina Pereira. Torço para que dê tudo certo.
Voltarei em breve para Cordisburgo. Enquanto isso, aproveitem e conheçam essa hospitaleira e extraordinária cidade. Aqui, as memórias das obras de Guimarães Rosa estão vivas como em nenhum outro lugar do Brasil.