quinta-feira, 15 de agosto de 2013

TERROR NO CINEMA

" Era dia dos pais. Zemar, pai de filho único e marido de mulher nenhuma, já que era pai solteiro, ou pãe, no dizer dele. Assumira a criação do filho em desde que ele tinha quatro aninhos, pela convicção de que a mãe não poderia criá-lo a contento. Naquele dia convidou o filho a irem passear na cidade grande, no shopping, que os jovens tanto gostam. Foram. Passearam. Viram lojas, produtos, depois se dirigiram para as salas de exibição. Zemar pediu ao filho que escolhesse que filme gostaria de ver. O filho, Joãomar, adolescente de quinze anos, escolheu ver o Capitão América. Zemar não morria de amores pelo gênero, mas, azar o seu. Quem mandou mandar o filho escolher? Deveria ter escolhido ele próprio! Aquele dia era o dia dos pais, não dos filhos… O filme era em 3D. Eles nunca tinham visto um filme em 3D. Entraram para a sala que era pequena. Zemar teve saudade dos antigos cines que fazia questão de ir quando passava pela capital: cine Art Palácio, Brasil, Candelária, Odeon, Paladium… Foram os primeiros a adentrar a sala. Dentre em pouco começaram a aparecerem outros. O filho reparou que todos vinham com óculos escuros na mão. Chamou a atenção do pai para o fato. “Uai”, pensou Zemar. “Será que davam os óculos na aquisição dos ingressos e não deram para ele”? Pediu explicação ao moço da cadeira da frente e ele esclareceu que os óculos estavam numa caixa, perto da porta da sala e que era só pegar. Zemar teve vergonha de sua ignorância. Mas perdoou-se porque era a primeira vez que iria assistir a um filme 3D. Resolveu ele próprio ir buscar os óculos. De seu assento viu uma cortina no cantinho da sala, quase debaixo da tela. Foi até lá. Abriu a cortina e, à fraca claridade das luzes, viu um corredor e lá no fundo do corredor uma larga porta de metal branco. Entrou no corredor. Ao fecharem-se as cortinas a escuridão foi completa. Caminhou firme até tocar a porta. Abriu-a. Ela dava acesso ao lado de fora do shopping. Não entendia. Como aquilo podia ter acontecido? Raciocinou: se saísse para retornar à sala de exibição, teria que comprar outra entrada. Não gostou da idéia. Iria retornar à sala e descobrir o caminho certo. Mas querer não é poder como não diz o ditado popular. Voltou ao corredor. Fechada a porta, a escuridão também voltou. Podia fechar os olhos porque ali eles não estavam tendo serventia nenhuma. Foi em frente. Ao tocar a cortina abriu-a satisfeito, mas sua satisfação fez-se estupefação: a sala não era a que ele estava! Fechou a cortina e titubeou em outra direção. Achou outra cortina. Abriu e deu em outra sala vazia. Começou a sentir medo. A escuridão era total, já se disse. Ficou se recordando de um ou outro filme de terror que tinha assistido. Não quis ver mais. Odiava filmes de terror. Recordava-se de uma estrofe de uma poesia que lera certa vez: "Vivendo se aprende lições guarde esta se puderes: a vida tem coisas lindas, veja as feias se quiseres". Com tanta coisa bonita para se ver na vida e tem gente que perde tempo vendo filmes de terror. Mas ele tinha de se lembrar dos horrores dos filmes de terror logo agora, que estava perdido num labirinto, dentro da maior escuridão? Mas lembrou, malgrado seu. Em um instante as figuras grotescas saíram de sua imaginação e ganharam vida. Poderia gritar, mas não adiantaria porque em uma das salas se exibia um filme barulhento. Conseguiu por fim dominar-se. Aquilo não existia. Existia era um cérebro dominado pelo medo. Retomou o controle e procurou a porta para o exterior. Achou-a. Saiu. Ai, que alívio! Retornou à entrada. Explicou seu drama ao porteiro. Ele entendeu e lhe franqueou a entrada. Ali, perto da porta da sala 7, estava a caixa com os óculos. Maldisse-se. Porque não mandara o filho buscar os tais? Afinal, aquele não era dia dos filhos. Era dia dos pais".

José Maria Gonçalves (Nenzito)

Um comentário:

  1. Hola Nenzito!

    Disculpa que comente en español y no en brasileño pues no sé hacerlo.Yo estoy traduciendo con Traductor Google.

    Yo también soy de una zona minera:nieta, sobrina, prima, hija, esposa...de mineros por eso esta visita a tu blog, es para mi, muy especial.

    He leído este relato, está muy bien:es muy interesante, comencé a leer y quería saber qué diría después y el padre tenía razón en que no era el día del hijo sino el Día del Padre jejejeje.

    Un saludo desde Asturias, España

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