quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Mulher biônica

MULHER BIÔNICA José MG Eu quero uma mulher, que tenha conteúdo, que saiba discernir, além de sorrir. Que tenha uma alma, que me enleva e me acalma. Que o espírito seja de luz, cheio de esplendor. Não, não importa o exterior. O exterior pode ser modificado ao bel prazer de sua dona. Mas seu interior. No seu interior é que ela mora, tem que ser lindo e imutável ainda que sopre a tormenta. Digo isto por causa do trauma que passei e ao saber meu sofrimento vocês me darão razão. Saí com uma mulher que tinha tudo no lugar. E eu, euzinho mereci a atenção daquela deusa e me perguntava que bem que eu fiz a Deus para merecê-la. Apesar de ser de meia idade, colocava muito mocinha em sua retaguarda. Jantamos. Fomos ao cinema e eu não me cansava de me admirar daquela beleza, ali na mesa: loura, cabelos sedosos, os dentes perfeitos, o sorriso sensual. Os olhos verdes lembravam esmeraldas e eram muito, muito doces. Os cílios longos, charmosos. As pálpebras fechavam e abriam fazendo charme. Dava a tristeza da eclosão das pedras preciosas que ornavam os olhos, depois à explosão da alegria de tornar a mostrá-las. Os lábios, médios. Os seios, ah, os seios! Desnudos pelo decote generoso pareciam esculpidos por um artista de todos os quilates, sem nenhum defeito. Sobre a porcelana da base os bicos de rubi. Após o jantar, fomos a uma danceteria, onde a tive em meus braços, no doce balanceio da valsa, e junto com o calor de seu corpo, senti seus seios rígidos me espetando e despertando o desejo. Seus lábios se ofereciam e meus lábios não os desdenhavam. Nossos lábios buscavam-se e nossas línguas também valsavam ao ritmo de nossos corpos. De comum acordo deixamos o salão de dança e fomos para o apartamento da deusa. Ela colocou uma música suave para servir de fundo à nossa troca de carícias. Quando estávamos em ponto de bala, fomos para o quarto. Deitamo-nos e nos doamos intensamente. Pela manhã, antes de abrir os olhos eu já sorria. Abrindo-os notei a claridade que se coava pela cortina lilás. Levantei-me bem disposto apesar do combate, ou melhor, por causa dele. Abri um pouco a cortina porque eu queria ver bem o monumento que eu tive em meus braços, mas sem acordar a deusa adormecida. Não obstante a suavidade do meu movimento, ela tinha sono leve e acordou e sorriu para mim e neste momento, o mundo ruiu. Acendi a luz para ter a melhor certeza e estarrecido vi: sua peruca loura tinha saído e um cabelo bastante crespo espetava o travesseiro. Os cílios postiços estavam agarradinhos no cobertor deixando desprotegidas as pálpebras ermas, peladas daquele adorno, sem um cilizinho pra remédio. As lentes de contato, verdes, descansavam sobre o criado mudo, vizinhos dos dentes dentro de um copo d’água. Um dos seios estavam retorcidos porque o cilicone tinha se deslocado. Consternado, consegui desenhar um sorriso que deve ter saído uma careta e falei que ia buscar pão e nunca mais voltei.

Um comentário:

  1. Jajajaja, solo faltaba que hubiera sido un hombre, ¡aun seria peor, y suceder puede, jajaja, ¡muy ameno, me encanto!
    Besos.

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