domingo, 24 de outubro de 2010

Nenzito - Agenda

31/10/10
Montes Claros/MG - Semana Cultural
 Show Contando e cantando o sertão com  Nenzito e Elvis

11 e 12/11/10
Quixeramobim/CE
Evento Novembro cultural

19 e 20/10 
São Paulo/SP 
Lançamento de livros e apresentação em dois colégios - Nenzito, Fábio e Brasinha.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Em cena...

Teatro da Assembléia Legislativa de Minas Gerais
Projeto Zás
03/09/2010









domingo, 10 de outubro de 2010

Entrevista


Entrevista concedida ao sociólogo e professor universitário, Moisés Augusto Gonçalves, publicada em http://www.refletere.blogspot.com/


Moisés Augusto – Pra começo de conversa, José Maria ou Nenzito?


Nenzito- Meu nome completo é José Maria Gonçalves. Sou chamado de Zé Maria, por uns e de Nenzito, por outros. Nasci em Cordisburgo, 7º filho do casal José Gonçalves Filho e Dona Elvira de Assis Barbosa. Estudei as primeiras letras em casa mesmo, com minha mãe. Eu pegava uma revista e perguntava minha mãe que palavras eram aquelas em letra grande, na capa. Minha mãe lia e destrinchava a palavra, explicando cada sílaba. Quando me matricularam no Grupo Escolar Mestre Candinho, com quase 10 anos, eu já lia regularmente. Não me matricularam antes esperando que eu crescesse, porque tinham pena de colocar alguém tão pequeno na escola. Quando viram que o tempo passava e altura não aumentava, o jeito foi me deixar entrar na Escola. Eu já lia e na sala de aula ajudava a professora a corrigir os deveres. Terminado o primário em 1957, comecei logo o Ginásio Comercial de Cordisburgo. Não tinha como continuar os estudos, porque em Cordisburgo não tinha o colegial e meus pais não tinha recursos para mandar-me estudar fora. Cinco anos depois, matriculei-me no iniciante curso de Magistério. Terminado, consegui uma vaga para dar aula em uma escola estadual no meio rural. Lecionei durante três anos. Mais tarde, ao notar minha fragilidade em matemática, matriculei-me no curso de Técnico em Contabilidade. Terminando o curso, tentei vestibular na Faculdade de Direito de Sete Lagoas, tendo sido aprovado. Advoguei apenas por um tempo. Não advogo mais. Trabalho na Prefeitura Municipal de Cordisburgo, no Setor de Tributação e Fiscalização, desde 02/01/1985. Nada a ver com minha vocação artística... Felizmente, estou em vias de me aposentar por idade. Onde me realizo mesmo, é como contador de histórias, atividade que me dá satisfação pessoal. Adoro viajar por este Brasil contando histórias de minha terra, minha gente e do nosso Guimarães Rosa. Em breve, eu e outros colegas contadores faremos uma turnê de 24 dias no estado de São Paulo, com apresentações na capital e no interior.


Moisés Augusto - E os amores?


Nenzito - Continuo solteiro, por opção (das mulheres, infelizmente). Moro com meu filho, Vítor, de 13 anos. Já fui das baladas, das noitadas, das bebidas, do cigarro. Hoje a casa me conquistou: o filme, o livro, a cama, o quintal, os animais domésticos, a música. Adoro caminhar no semi-escuro da madrugada, sozinho com meus pensamentos e com os primeiros chilreios dos pássaros como que fazendo sua oração matinal. Curto a minha “sozinhidão”, como dizia Guimarães.




Moisés Augusto – Você é membro da Academia Cordisburguense de Letras. Continua escrevendo...


Nenzito - Já arrisquei escrever uns versinhos, mas acho que a fonte secou. Gosto de mergulhar todo na rica literatura roseana, me nutrir de seus sabores e encarnar seus personagens, tão colocados ao nosso chão...


Moisés Augusto - O que é ser um contador de histórias?


José Maria (Nenzito) - É mergulhar no mundo mágico da literatura e transmiti-la através da narração. Arrancar os personagens que estão costurados no papel e lhes dar vida. Mergulhar no conto, na história à procura dos sentimentos e expô-los à luz. Maravilhar-se quando se enamora de uma estória e começar o romance que só pode acabar em casamento. Não há incompatibilidade de gênios desde que houve simpatia no primeiro olhar.




Moisés Augusto - O que é narrar Guimarães Rosa?


Nenzito- Há dois tipos de narração: liberdade em relação ao texto, onde o narrador pode descolar-se no texto e até criar algo dentro do texto, e fidelidade ao texto. Guimarães Rosa está neste segundo. Com ele mais que com qualquer outro, o narrador é cativo do texto. Se fala uma palavra que não é do autor, ela grita desesperada: “EU ESTOU SOBRANDO AQUI!...” É um texto mais difícil de decorar. Mas para quem mora no meio sertanejo, para quem vive fora das metrópoles, é saudável e gostoso narrar o Rosa. Dar vida, cara e voz ao sertanejo. Mas é preciso conhecer o sertanejo assim como é preciso conhecer o Rosa. Um cidadão cosmopolita que conhece bem a literatura Roseana, mas não conhece o sertanejo, terá dificuldades de narrar trechos de Guimarães Rosa. É uma delícia narrar Guimarães Rosa, sobretudo para seus admiradores!


Moisés Augusto - O que é preciso pra ser um bom contador de histórias?


Nenzito - Primeiramente é preciso ter dom para isto, facilidade para transmitir. Depois se empenhar. Decorar é um trabalho pesado. Precisa aprofundar no texto escolhido e não deixar nele nada escondido. Pelo menos tentar trazer tudo o que há no texto à tona. Entretanto, o texto sempre esconde algo de nós. Pela vida afora vamos descobrindo coisas novas no conto, jeito novo de falar. O narrador precisa fazer constantes pesquisas sobre seu texto, fazer experimentações e verificar se a platéia aprova. Se deu certo, incorpora aquele novo jeito, aquela entonação, aquele gesto à sua narração. Pesquisar sempre.


Moisés Augusto – O que mais te toca na obra de Guimarães Rosa? Há algum personagem em especial ou texto com o qual você mais se identifique?


Nenzito – O que mais me toca na obra roseana é o conhecimento do Guimarães sobre a alma, a natureza humana: o homem, sua grandiosidade, e suas baixezas. O ser humano como é. O bem e o mal em luta dentro de cada um. Por isso ele disse que o sertão é do tamanho do mundo. O conflito faz parte de nós, assim como a paz. “O diabo não há, o que há é o homem humano, travessia”. “Que Deus existe, sim, devagrinho, depressa, ele existe, mas quase só por intermédio da ação das pessoas, dos bons e maus” (citações de Grande Sertão: Veredas). E assim eu já respondo à segunda pergunta: O personagem com quem mais me identifico é Riobaldo de GS: Veredas com suas incertezas, sua valentia e seus medos.