sexta-feira, 18 de dezembro de 2009


Fui funcionário público municipal por vinte e quatro anos e sete meses. Um dos flagelos que nos assolavam era o atraso de pagamento. De certa feita, nos pagaram o 13º em fevereiro. Revoltado escrevi o texto abaixo e enviei para meus colegas de infortúnio.


AINDA É NATAL


Pelos tempos a fora os cristãos relembram alegremente em dezembro, a felicidade dos humanos com a vinda de Jesus, o Salvador da humanidade.

No final do século XIX, aconteceu na Inglaterra a chamada Revolução Industrial, que deu a luz ao capitalismo que por sua vez pariu o deus Mercado, que vê na alegria do Natal ótima oportunidade de encher a barriga com seu alimento preferido: o lucro.

Com a finalidade de agradar ao deus Mercado, foi criado o 13º salário para que o pobre trabalhador tenha a ilusão de que é consumidor e consuma(-se?).
Ficamos então com esta dicotomia: existem dois natais. O Natal cristão e o natal profano. No cristão cultuamos Cristo, agradecemos sua vinda. No profano, empurrados pela mídia, lançamo-nos nos braços do deus pagão e consumimos(-nos?).


Como o trabalhador assalariado de baixa renda precisa do 13º salário para fazer seu natal profano e só agora em fevereiro nós recebemos nosso décimo terceiro, para nós ainda é natal. Festejemos juntos, colegas, e cantemos aquela paródia que fiz sobre a versão da Simone: Então é Natal:

Então é Natal!
e o pagamento quem dera!
Nada de 13º
e a esperança já era.

Então é Natal!
e o prefeito onde está?
Comendo peru,
champangne e caviar!

Então é Natal
e tua ceia e os presentes
o sorriso, a alegria?
Está tudo ausente!

Então é Natal!
e só nos resta o choro!
Se estamos todos juntos,
choremos em coro!

sábado, 28 de novembro de 2009

OS NOMES

Quase sempre um nome tem uma razão de ser, uma história. O nome das pessoas é frequentemente escolhido em homenagem a alguém: um parente, um santo, um vulto histórico. O nome dos lugares públicos também homenageia pessoas que fizeram algo de notável pelo povo em algum tempo ou lugar: um feito heróico, religioso; alguém que destacou na política, nas artes, nos esportes, etc. Assim temos, em Cordisburgo: Avenida Padre João, Rua Cel. Geraldino Rocha, Rua Prefeito Dimas Henrique de Freitas, Rua Expedicionário José Gomes da Silva, Galpão Augusto Diniz Costa, Praça Jovito Pereira.
Estranhamente porém, em meio a nomes de benfeitores da cidade, magos sem fraque retiram estranhos nomes da cartola. Nomes que por mais que apuremos os ouvidos, eles nada nos dizem. Por exemplo: Eduardo Rios Neto, alguém já o tinha ouvido antes? Cláudio Pinheiro de Lima, idem. Albertina Diniz Maciel, idem, idem. E Conceição Patrus? O sobrenome não me é estranho, mas a pessoa, quem é? O que fez de notável aqui ou alhures?
Por falar em denominação, perdi uns fios de cabelo, outros branquearam tentando descobrir porque nosso ginásio coberto recebeu o nome de “Centro Educacional Conceição Patrus!” Educacional!? Meu Deus! Seria obra de antigo professor do Ginásio Comercial de Cordisburgo tendo um crise de nostalgia? Seria senilidade precoce do dito senhor? Ou a caduquice prematura seria minha que não evoluí com o tempo, pois eu juraria que aquilo seria um centro esportivo?
É peta. Cansado de espremer o cérebro pergunto a todos que encontro. Até que enfim meu esforço é recompensado: Alguém do fundo da cozinha, ou melhor, do fundo do gabinete do homem, explicou-me que era para poder destinar verba da educação para lá, já que sobrava dinheiro da educação. Santo Deus, acuda-me! Agora é que entendo menos: escolas rurais caindo aos pedaços, professoras ganhando o mesmo que serventes, material escolar e didático deficitário!… Ah! Entendi! Por isso mesmo é que está sobrando dinheiro!
Desculpem a divagação. Voltemos aos nomes. Enquanto alienígenas ocupam lugar de destaque, personagens nossos são esquecidos. Por que não dar ao ginásio o nome de Bené Liboreiro, grande batalhador pelo esporte em nossa cidade? E o Zezé Leone batalhador contra as doenças, que tantas vezes serviu de médico e dos bons, porque não tem nada com o nome deste herói da saúde em nosso Município?


Nenzito (Zé Maria)
Cordisburgo, junho de 2006

A BESTA


Tão lúcido é o infinito que
ainda se vê no espaço
os rastros do último sonho

Tudo tão aqui e tão longe e tão lá. O possível impossível, a pessoa impassível. São trôpegos os passos no passo-a-passo, sem compasso, sem paços, sem espaços. Nas paredes movem-se lépidas lagartixas de ouro. Num instante sou Ponce de Lion a decifrar estranhas trilhas e faísco ouro em meu coração, que qual lavra seca mostra o estéril veio. Não há ouro, há a utopia a preencher vazios poeirentos do Cosmos terrestre. Há inscrições rupestres na alma pré-histórica que luta com mastodonte hodierno com bafo de sepulcro e pestífero arfar do peito mesozóico. Horrível monstro que se revolve furioso em sua furna urbana e destrói com cauda insana, sonhos recém-nascidos e já recém-morridos. E o debater do meu último suspiro haverá de encontrar galáxias nos meus globos oculares que roubam sangue vital ao organismo, no afã de se misturar ao sangue podre do Cordistauro, para num sentimento nobre mas vão, tentar desputrifcar o sangue do ignóbil ser que habita as profundezas do nada no Labirinto Municipal, de onde gordo em sua dieta de sonhos, emerge a toda hora para mais um banquete.
E das profundezas de mim venho a janela dos olhos ver se o sol nasceu. Mas horrível realidade se impõe e submerjo no oceano de lágrimas, cansado de adiar para outro século a felicidade.
Mas hei de sair de minha terrível gaiola, para liberto enfim da tirânica pata, entoar o cântico estridente da liberdade, onde eu, pássaro de mim, ganharei os ares e irei jogar na fornalha ardente do sol, a imagem do terrível ser, arrancada de dentro dos meus pesadelos reais.
Ser enfim um novo cidadão, já liberto da opressão do anti-homem, que nos estertores de sua ignomínia, haverá de ainda relancear olhares gulosos a procura dos tenros sonhos. E morrendo de inanição, não haverá de se arrepender dos crimes, porque o fazendo perderá o direito de entrar no mundo metafísico dos monstros tridimensionados. E expulso de todos os corações, vagará zumbi por estranhas paragens monstruosas, que sobressaltam mesmo horripilantes seres.
E das encostas dos montes novamente jorrará leite e mel, e flores se abrirão ao fulgir das luzes da liberdade.

Nenzito (Zé Maria)
Cordisburgo, 14/11/1989

sábado, 14 de novembro de 2009

Miragem


de vez em quando, minha veia poética transborda meus eus...

Tu és pra mim miragem
abstração do ser concreto
concretização de um afeto.

existes não existindo
só ideal vindo
do meu intelecto.

só imagem a mente
coração inconformado sente
a presença do visul, deserto.

a imagem na mente
sinto forte carência
de ti ver perto.

Na presença de tua ausência
dinto forte carência
de ti ver perto.

de te ver no tato
de sentir de fato
se existes, amor dileto...

NENZITO (Zé Maria)

terça-feira, 20 de outubro de 2009




www.youtube.com/watch?v=SPsvziM9DUI

domingo, 18 de outubro de 2009

Preciosidades Roseanas...



"Quem vence é custoso não ficar com cara de demônio."

"Esquecer pra mim é quase igual perder dinheiro."

"Eu atravesso as coisas e no meio da travessia não vejo."

"O diabo não há, é o que digo, o que existe é o homem humano, travessia."

"Zebedelo falou com tanta raiva, que tudo que ele falou ficou sendo verdade."

Grande Sertão: Veredas


"Todo abismo é navegável a barquinhos de papel."

Conto Desenredo, Tutaméia


"Ele acredita em mentiras, mesmo sabendo que mentira é."

Urubuquaquá no pinhém


"Eu estava sobrando mais que ovo depois de dúzia..."


"Quando publicou seu primeiro livro de contos, Sagarana, seu amigo João Condé impôs-lhe o imposto Condé para escritores, que consistia em anotar nos espaços em branco de seu exemplar, uma explicação sobre a gestação da obra. Assim explicou-se o Rosa:

Eu tinha de escolher o terreno onde localizar as minhas histórias. Podia ser Barbacena, Belo Horizonte, o Rio, a China, o arquipélago de Neo-Barataria, o espaço astral, ou, mesmo, o pedaço de Minas Gerais que era mais meu. E foi o que eu preferi. Porque tinha muitas saudades de lá. Porque conhecia um pouco melhor a terra, a gente, bichos, árvores. Porque o povo do interior — sem convenções nem poses — dá melhores personagens de parábolas.”

De fato, o primeiro conto de Sagarana, O burrinho pedrês, foi ambientado aqui. Nele tem personagens com nomes reais como Juca Bananeira, Viriato, Badu, e outros que ele usou pseudônimo como o Major Saulo. A Fazenda ele mudou de Fazenda da Ponte, nome real, para Fazenda da Tampa, nome fictício. O Córrego da Fome foi mantido no real. No conto O duelo, o personagem Turíbio Todo morava em Vista Alegre, nome primitivo de Cordisburgo. Em a hora e a vez de Augusto Matraga, ele cita lugares não nossos, como “a Vargem, espécie de arrabalde que prolongava o arraial para lá da linha férrea” e a Ponte da Quininha.

Mas é na novela O Recado do morro que ele capricha nas coisas de Cordisburgo: O carroço que avoa do Catraz, era falado em tom de brincadeira pelo Sinval, sogro da nossa confreira Dona Haydée. O próprio Catraz foi inspirado pelo João Batata bobo de fazenda que freqüentava a Fazenda Remanso do seu amigo Oliveiro Torres. O seu Soandes que resolveu fazer umas asas e voar para o céu sem passar pelo tormento da morte, foi fato verídico acontecido por personagem daqui e que morava perto do seu Florduardo. E vários locais que existem de verdade na cidade ou no campo, foram pesquisados pelo Grupo Caminhos do Sertão e são mostrados aos grupos que nos visitam em sua maioria estudantes. Em trecho do livro ele diz o seguinte:

“Do que eles três falavam entre si, do muito que achavam, Pedro Orósio não acertava compreender, a respeito da beleza e da parecença dos territórios. Ele sabia — para isto qualquer um tinha alcance — que Cordisburgo era o lugar mais formoso, devido ao ar e ao céu, e pelo arranjo que Deus caprichara em seus morros e suas vargens; por isso mesmo, lá, de primeiro, se chamava Vista-Alegre."


Nenzito (José Maria)

Fragmento de discurso proferido na Academia Cordisburguense de Letras, em 31/07/2009.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009


Na agradável companhia de Eusélia, nos intervalos da Oficina de contação de histórias ministrada recentemente no Campus X da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), em Teixeira de Freitas.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

E la nave va...

Estou navegando em mar tranquilo,

com céu azul, vento a favor

e o coração em festa...

E la nave va...

Nenzito (José Maria)

Uma nova frente de trabalho...


Pessoal,


tenho a grata satisfação de comunicar a todas e todos que, a partir do dia 19 de outubro, estarei abrindo uma nova frente de trabalho na Secretaria de Assistência Social do Município de Betim, MG. Dentre minhas atividades, a formação de contadores de Histórias junto às comunidades de periferia e outros segmentos sociais. Trabalho gratificante, que desenvolverei com todo o coração...

No mais, estou aberto a novos trabalhos no tempo disponível.

Um abraço amigo do...


NENZITO

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Agenda...


12/setembro- participação na Caminhada Eco-literária do Grupo Caminhos do Sertão no Parque do Itacolomi, em Ouro Preto (MG), promovida pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP);

17/setembro - Narração de histórias para as profissionais de Psicologia da Secretaria de Assistência Social da Prefeitura Municipal de Betim (MG);

08/outubro - Narração de histórias durante o Festival de letras e Cultura (FELIC) da Universidade Estadual da Bahia (UNEB/Campus X);

09 de outubro - Oficina de contação de histórias no Campus X da Universidade Estadual da Bahia (UNEB), em Teixeira de Freitas (BA);

10/outubro - Oficina de contação de histórias no Curso de Pedagogia do Projeto Rede UNEB, em Alcobaça (BA);

14 de novembro - Peça Sarapalha apresentada aos estudantes de Letras da PUC São Gabriel, em Cordisburgo (a confirmar);

15 e 29 de novembro - Oficina de contação de histórias em Caetanópolis (MG), promovida pela Secretaria de Cultura do município.