sábado, 28 de novembro de 2009

A BESTA


Tão lúcido é o infinito que
ainda se vê no espaço
os rastros do último sonho

Tudo tão aqui e tão longe e tão lá. O possível impossível, a pessoa impassível. São trôpegos os passos no passo-a-passo, sem compasso, sem paços, sem espaços. Nas paredes movem-se lépidas lagartixas de ouro. Num instante sou Ponce de Lion a decifrar estranhas trilhas e faísco ouro em meu coração, que qual lavra seca mostra o estéril veio. Não há ouro, há a utopia a preencher vazios poeirentos do Cosmos terrestre. Há inscrições rupestres na alma pré-histórica que luta com mastodonte hodierno com bafo de sepulcro e pestífero arfar do peito mesozóico. Horrível monstro que se revolve furioso em sua furna urbana e destrói com cauda insana, sonhos recém-nascidos e já recém-morridos. E o debater do meu último suspiro haverá de encontrar galáxias nos meus globos oculares que roubam sangue vital ao organismo, no afã de se misturar ao sangue podre do Cordistauro, para num sentimento nobre mas vão, tentar desputrifcar o sangue do ignóbil ser que habita as profundezas do nada no Labirinto Municipal, de onde gordo em sua dieta de sonhos, emerge a toda hora para mais um banquete.
E das profundezas de mim venho a janela dos olhos ver se o sol nasceu. Mas horrível realidade se impõe e submerjo no oceano de lágrimas, cansado de adiar para outro século a felicidade.
Mas hei de sair de minha terrível gaiola, para liberto enfim da tirânica pata, entoar o cântico estridente da liberdade, onde eu, pássaro de mim, ganharei os ares e irei jogar na fornalha ardente do sol, a imagem do terrível ser, arrancada de dentro dos meus pesadelos reais.
Ser enfim um novo cidadão, já liberto da opressão do anti-homem, que nos estertores de sua ignomínia, haverá de ainda relancear olhares gulosos a procura dos tenros sonhos. E morrendo de inanição, não haverá de se arrepender dos crimes, porque o fazendo perderá o direito de entrar no mundo metafísico dos monstros tridimensionados. E expulso de todos os corações, vagará zumbi por estranhas paragens monstruosas, que sobressaltam mesmo horripilantes seres.
E das encostas dos montes novamente jorrará leite e mel, e flores se abrirão ao fulgir das luzes da liberdade.

Nenzito (Zé Maria)
Cordisburgo, 14/11/1989

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